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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A SOMBRA



Não obstante a nossa mente poder dizer-nos que mau é mau, e bom é bom, que nunca poderemos ser realmente tudo aquilo que sonhámos ser, se a nossa sombra fosse capaz de falar dir-nos-ia uma coisa bem diferente.



Dir-nos-ia que a nossa luz mais brilhante só pode brilhar quando aceitamos as nossas trevas.



Assegurrar-nos-ia da existência de sabedoria em todas as nossas feridas.



Mostrar-nos-ia que a vida é uma jornada mágica para fazer as pazes tanto com a nossa humanidade como com a nossa divindade.



A nossa sombra dir-nos ia que merecemos melhor, que somos importantes, que somos mais do alguma vez sonhámos ser possível e que há luz no fundo do túnel.



Aceitando a nossa sombra, descobrimos que estamos a viver um plano divino, um plano tão importante e tão vital para a nossa evolução pessoal quanto o é para a evolução da humanidade.



Tal como a flor de lótus que nasce da lama, devemos honrar as zonas mais obscuras de nós e as experiências mais dolorosas da nossa vida, pois elas são aquilo que nos permite dar luz ao nosso "eu" mais maravilhoso.



Precisamos do nosso passado sujo e lamacento, do lodo da nossa vida humana- da combinação de todas as mágoas, feridas, perdas e desejos não realizados, misturados com todas as alegrias, sucessos e bêncãos-, para obter a sabedoria, a perspectiva e a motivação necessárias para entrar na mais magnífica expressão de nós próprios.



É esta a dádiva da sombra.



( Debbie Ford- A Luz e a Sombra )

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ADVERSÁRIO




Para lutar, é preciso ter os olhos bem abertos.

E ter companheiros fiéis ao seu lado.

Acontece, que de repente, aquele que lutava ao lado do guerreiro da luz passa a ser seu adversário.

A primeira reacção é de ódio; mas o guerreiro sabe que o combatente cego está perdido no meio da batalha.

Então procura ver as coisas boas que o aliado fez durante o tempo em que conviveram; tenta compreender o que levou à súbita mudança de atitude, quais os ferimentos que se acumularam na sua alma.

Procura descobrir o que fez um dos dois desistir do diálogo.

Ninguém é bom ou mau; o guerreiro pensa nisso quando vê que tem um novo adversário...




(Paulo Coelho- O guerreiro da Luz)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MOMENTOS


Há momentos em que sou extremamente feliz.
Momento mágicos, íntimos e profundos...
Gosto de entrar nas livrarias, de sentir o cheiro do papel.
De percorrer com o olhar as prateleiras, à procura do tesouro que irei levar para casa, desta vez.
Sinto-os como seres vivos, e fico à espera que me escolham.
Porque como seres vivos que são, cheios de sabedoria, eles sabem sempre o que preciso ouvir.
Naquele momento...
Abrem-se nas minhas mãos, precisamente na página que contém a frase com as respostas para as perguntas, que tenho vindo a fazer.
Sentem, como se abre o meu coração, invadido pelo entusiasmo de levar para casa um novo amigo.
Ambos sabemos que fazemos parte, um do outro, e que partilharemos momentos só nossos.
E que um só existe, por causa do outro.
Uma vez a escolha feita, gosto de lhes acariciar a capa, antes de os abrir.
Para que saibam que são queridos, como são os meus amigos.
Fico preenchida por uma imensa gratidão, por saber que alguém, do outro lado do mundo, teve prazer, em dar-me prazer.
Grata pela entrega,pela partilha de palavras escritas, nas quais eu me deleito.
Momentos mágicos, nos quais eu paro tudo, e apenas sou.
Se forem livros de histórias, eu mergulho de cabeça, e deixo-me embalar.
Leio de fio a pavio, envolvo-me, emociono-me.
Vivo cada parêntese, cada vírgula...
Arregalo os olhos perante cada ponto de exclamação.
Franzo o sobrolho, perante cada ponto de interrogação.
No fim de cada capítulo, hesito entre fazer uma pausa ou continuar.
Por vezes, abrando o ritmo para prolongar o prazer.
Outras, deixo-me levar pelo entusiasmo, e mal paro para respirar.
Esqueço-me do tempo, da vida lá fora.
Deixo que o livro tome conta de mim.
Entregue ao momento.
Segurando o meu novo amigo nas mãos com todo o carinho, passamos da sala até à minha cama, com toda a intimidade do mundo.
E seguimos juntos pela noite dentro, olhos, nas letras, de luzes apontadas para baixo.
Se forem livros de mestres, impulsionadores de almas, fazedores de borboletas,
Eu dedico-lhes atenção redobrada.
Repito todo o ritual de amor, de gratidão.
Mas desta vez, deixo de ser apenas espectadora, e interajo com eles.
Leio-os sempre, munida de papel e caneta.
De cada vez que a emoção aflora, sei que aquele parágrafo foi reconhecido pela minha alma.
São lembretes de casa, de suma importância.
Por isso sublinho-os, tomo notas.
Leio e releio, vezes sem conta, por forma a absorver cada réstia daquela luz.
Por vezes a luz é tão forte, que sou obrigada a fechar os olhos.
Para poder sentir, a preciosidade do momento.
Nesses momentos, lágrimas de gratidão caem por cima das páginas do meu amigo.
Que em silêncio, sem se importar, as absorve .
Noutra alturas, é-me revelada tamanha beleza, que dou por mim a sorrir.
Encantada...
Como agora.
Neste preciso momento em que escrevo.
Sorrio por também eu poder partilhar, estes momentos, em que sou extremamente feliz.Verificar ortografia
Após cada encontro com os meus amigos de papel, termino como comecei.
Pousados sobre o meu colo, acaricio-lhes a capa, e agradeço à vida pelo nosso encontro.
Encaixo-os nas prateleiras, junto a outros amigos, e sempre que bate a saudade,
Sempre que recordo como me ajudaram em tantos momentos, vou buscá-los.
Tal como no primeiro encontro,volto a envolvê-los de carícias,
Mas desta vez, sinto um arrepio a percorrer todo o meu ser.
Como se fosse um reconhecimento por parte do meu amigo.


Que sabe, que iremos partilhar novamente


Maravilhosos momentos...


Cláudia

A TEMPESTADE


A vida oscila como um pêndulo, entre águas tranquilas e tempestades.
E se eu me permito boiar quanto tudo é calmo,
Deixando-me ir ao sabor da corrente,
Olhando o céu, agradecendo por tudo, acreditando que será assim para sempre,
Desejando que o sol não pare de brilhar, que nuvem alguma venha ensombrar o meu passeio,
E que nada me venha retirar do meu conforto...
O mesmo não se passa quando o pêndulo da vida, que tem o seu próprio ritmo,
E que não pode ficar parado, se começa a deslocar no sentido oposto.
E eu sei que é assim.
Mas mal começo a sentir a ondulação, eu fujo.
De medo.
Consigo pressentir ao longe, as ondas gigantes que se aproximam sem dó nem piedade.
E sei que são para mim.
Sinto no ar o sopro do vento, anunciando com assobios, avisos de tempestade.
E sei que fala para mim.
Olho para o céu, agora cinzento, povoado de nuvens,
E sei que terei de enfrentar a trovoada.
E mesmo sabendo de cor, que é a vida que manda,
Eu nado, com todas as minhas forças, contra a maré.
Tento o impossível...
E quanto mais nado, mais me afundo.
E quanto mais luto, mais me canso.
Quanto mais tento reverter o sentido do pêndulo, mais me encontro no seu extremo oposto.
Vou buscar as armas, chamo os aliados, reúno os exércitos.
E resisto, resisto, resisto, até não poder mais...
E esqueço-me por momentos, que a minha batalha é inútil.
Que nunca terei forças para mudar o curso da vida.
Porque a vida é a dona do meu destino.
Só ela sabe o que é melhor para mim.
Só ela sabe qual o meu porto.
Só ela sabe que o sol, é tão necessário para a minha viagem, quanto as tempestades.
Só ela conhece a força oculta do outro lado das nuvens.
E eu, que já naveguei tantas vezes por entre mares revoltos,
Continuo com medo de me afogar...
Mas a vida que me acompanha desde, e para todo o sempre,
Que me conhece, como ninguém...
Não me dá tréguas, e avança, com todas as forças na minha direcção.
Lançando sobre mim, ondas gigantescas, ventos implacavéis, e trovões ensurdecedores.
Olhando para trás, sei que não posso recuar.
Por mais que procure, não encontro bóias algumas, nem um tronco à deriva sequer.
Levanto os olhos para o céu, em busca de um farol, uma estrela guia, de luz.
E...nada.
Desta vez, a tempestade terá de ser atravessada sem quaisquer mapas ou guias.
Porque a vida quer.
Porque a vida sabe, que eu sei nadar.
Não importando a dimensão da tempestade, ou a velocidade do vento,
Ela sabe, que eu vou sobreviver.
A vida decidiu fazer-me passar por todas as oscilações do pêndulo,
Por forma a que eu possa perceber, que é no meio,
Exactamente no meio,
Que eu vou encontrar, o melhor que a vida tem para me dar.
Porque a vida, deu-me umas asas enormes.
E sabe...
Que tanto eu, como tu, sabemos ...
Voar...

Cláudia.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SIMPLES ASSIM


Eu hoje estou com pouca fé, falta-me a esperança.
Ainda assim o meu coração impele-me para diante, e não quer que eu desista.
Hoje em dia já me restam poucos sonhos.
Apenas coisas simples.Como simples, é o meu coração...
Uma casinha confortavél, perto do campo e do mar, animais á minha volta, domésticos e selvagens.
Um companheiro que me ame, tanto, tanto! E que eu ame também, tanto quanto ele.
Um trabalho que me traga alegria e prazer, a mim e aos outros.
Comidinhas boas á volta da mesa, a visita de amigos daqueles, que não precisam de cerimónias.
Música alegre, á minha volta, roupas leves e esvoaçantes.
E mais nada.Eu não peço mais nada.
Apenas isso...
Apenas esse amor, essa sensação de pertença, e essa paz.
Eu queria tanto ainda ser feliz nesta vida...

Cláudia

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

LAÇOS INFINITOS





Existe dentro do meu coração, um lugar onde guardo os meus laços infinitos.
Laços etéreos, que não têm peso e nem medida.
Que não são visíveis, que palavra alguma poderá descrever.
São laços que me ajudam a viver na Terra, com a certeza que vim do céu.
São laços que me ligam a outros corações.
Corações, que choram, que riem, e que se aflijem como o meu...
Mas que se distinguem dos outros corações, porque o fazem comigo.
Olhares que choram, que riem, e que se assustam, como eu...
Mas diferentes dos outros olhares, porque conseguem ver a minha alma.
Braços que abraçam, que seguram, e que apertam, como os meus...
Mas são braços nos quais eu me sinto segura, pois também eles tocaram os meus.
Foram esses corações, com esses olhares profundos, e esses abraços apertados, que me mostraram o amor que existe dentro de mim.
Sempre que me esqueci, que sou amor.
Sempre que me senti, distante desse amor.
Hoje, um desses laços parte para longe, e eu sinto-me desfeita.
Agarro-me aos laços, e aperto os nós com todas as minhas forças.
Sou invadida pelo apêgo, e não quero soltar...
Não tenho coragem de me despedir, entre soluços.
O amor que existe dentro de mim, doi muito.
É por isso que por vezes eu já não quero saber do amor.
Não quero mais laços, não abro o meu coração, desvio os olhares, e enfio as mãos nos bolsos.
Mas os laços que já colhi, são infinitos, não há meio de serem desfeitos...
Que irá restar de mim, quando todos os laços tiverem partido?
Quem restará para me dizer que eu tenho todo este amor aqui dentro?
De cada vez que um laço se afasta de mim, nesta vida de constante mudança,
Eu fico a pensar que tamanho terá o meu coração.
Porque cada um leva um pedaço de mim, e eu sinto-me cada vez mais pequena.
Como quando era criança, e vi tudo e todos os que amei partirem.
Um a um...
E como me senti impotente, nesses momentos desoladores.
Mas foram estes laços infinitos que me ajudaram a reunir partes que julgava perdidas para sempre.
Que me ajudaram a ter esperança outra vez, que me limparam as lágrimas
Que me mostraram que as minhas fraquezas eram afinal, a minha força.
E agora, justamente agora, que me sinto perdida outra vez, eles vão para longe.
Sentindo-me outra vez abandonada e só, escuto em silêncio , a voz do meu anjo...





"Os laços infinitos apareceram para te lembrar quem és e de onde vens.
Para te mostrar que o teu coração é tão imenso, e tão precioso, que tem de ser espalhado pelo mundo, pelos laços que já tocaram o teu.
Tal como o coração dos teus laços, que irão permanecer contigo, para sempre, para que os espalhes, por onde quer que vás.
Por isso são infinitos.
E se antes eras uma criança, que se sentia impotente,
Hoje sabes que outros laços virão, para que juntes aos que já criaste.
Esses que sabes que nunca mais vais perder.
Aqueles que em criança, julgaste ter perdido.
E vais perceber que o amor nunca perde.
Que o amor, não tem tamanho, e nem distância.
E que afinal todos os laços, estão dentro de ti, e que sempre que o amor doi, é apenas para te lembrar, que o laço infinito, que julgavas ter perdido,
És... TU."


Cláudia
(Dedico, a vocês, Eve e Méa.Meus laços infinitos de luz...)

sábado, 15 de outubro de 2011

UM DIA PARA TI




Hoje decidi dedicar-te o dia.
Decidi largar o machado, e oferecer-me um pouco de paz.
Dei descanso aos meus olhos e tranquei o caudal de lágrimas.
Proibi as perguntas e as preocupações com o futuro, e silenciei a minha mente.
Hoje, decidi abrir-te as portas do meu coração dorido, e pude sentir-te enfim...
Estive atenta à tua presença, e pude ver-te em tudo.
Mergulhei no teu mar, a príncipio com medo, porque hoje o teu mar estava bravo.
Como bravas têm estado as minhas emoções, tão cheias de medo...
E como soube bem mergulhar nessas ondas, ver essa espuma linda e tão branca, tão pura...
Saí, para me aquecer no teu sol.
Esse sol tão lindo e tão aconchegante...
Esse sol que eu persigo, sempre que a sombra me obriga a fazer face a todas as coisas para as quais eu recuso olhar.
E assim entregue, e exposta ao teu calor, enterrei fundo as mãos na areia.
Para te sentir comigo, presente, para me sentir segura, com raízes.
Para que soubesses, que sim, cada grão de areia teu, conta, para mim...
E de repente, a praia, que escolhi para ir ao teu encontro, ficou completamente vazia.
Só nós dois...
E então pude fechar os olhos, ainda que hesitante, não fosse alguém aparecer de repente, e ver-me assim ausente, ainda que tão presente...
E ali fiquei a ouvir o som das ondas a bater nas rochas, sem que elas pudessem fazer nada para impedir tal invasão.
Conformadas de que o mar é senhor, e que elas terão de se ir moldando à sua vontade.
Transformando-se uma dia em pedras, areia, pó...
Como este corpo, que me transporta, e que um dia irá desaparecer, consoante a vontade da vida.
Percebi que somos os únicos na natureza a resistir.
Até mesmo um balde , que um dia serviu para fazer castelos de areia, boiava, sem se importar, umas vezes, para cima outras para baixo.
Resolvi intervir, salvá-lo do seu destino de fundo do mar.
Fui buscá-lo, pensando fazer uma surpresa à criança que lá for amanhã.
Imaginei o seu sorriso, e também os castelos que ainda poderá construir.
A pouco e pouco, a maré foi subindo, e a sombra foi tomando o lugar do sol.
Olhei longamente para aquele lugar mágico, e agradeci por me ter recebido.
Chegando a casa resolvi encher um pouco a banheira, e deitei-me de olhos fechados.
Fui invadida por uma paz profunda.
Com a cabeça mergulhada em silêncio, fiquei ali a ouvir as batidas do meu coração.
E respirei fundo.Tão fundo, tão profundamente...
E senti-me tão protegida outra vez.
Como quando estava no útero da minha mãe.Certamente...
Senti-me no nada.Tão cheia de tudo.
Nua, sem medo, sem vergonha, sem frio, sem solidão, sem divisões.
Ali, comigo.Contigo...
UNA.
Vesti-me, e voltei para um passeio na praia, outra praia.
Com as minhas amigas de todas as horas, as únicas testemunhas das minhas batalhas contra o fracasso.
Duas caudinhas a abanar, duas antenas fidedignas de amor incondicional.
E voltei para a rua diferente.Tão cheia do teu amor...
Olhei para cada pessoa com profundo respeito, com gratidão, senti-me ligada a todas elas.
E em silêncio disse a cada uma na minha mente, eu amo-te...
E sei que é assim que tu sentes, e nos vês a todos.
E quero sentir-me assim todos os dias.
Quero amar, como tu...
Depois de ver o pôr do sol que fizeste para nós, regressei a casa.
E fui reunir fotografias de tanta beleza que me tens permitido ver, todos os dias.
E fiz um albúm intitulado, " O amor está em todo o lado"
Há muito que eu o queria fazer, e resolvi que não ia adiar mais.
Tinha de ser hoje, o dia que dediquei para ti...
E é também a ti, que resolvi dedicar estas palavras, dedicar-te todo este amor.
Que sinto, por ti...
Daqui a pouco vou olhar para o céu, e ver que noite pintaste hoje para nós.
Vou mergulhar outra vez no silêncio e observar-te nas estrelas.
E depois de receber a tua luz, vou olhar para dentro do meu céu.
E pode ser que hoje, pela primeira vez, eu veja a tua luz dentro de mim.
E que perceba enfim, que eu também sou uma estrela, um grão de areia, uma onda, um raio de sol, a sombra, o silêncio, luz...
E se me puderes conceder um só desejo, eu peço-te, estrela cadente, que transformes, o eu, e o tu, num definitivo nós.
Porque eu nunca mais me quero sentir separada, e nem dividida.
Eu quero transformar todos os dias da vida que me restam, em dias "nossos".
De todos, de tudo.




Por ti, por mim, por todos nós...




Cláudia.


sábado, 1 de outubro de 2011

A SAÚDE E AS EMOÇÕES





Qual adoece primeiro: o corpo ou a alma?
A alma não pode adoecer, porque é o que há de perfeito em ti, a alma evolui, aprende. Na realidade, boa parte das enfermidades são exatamente o contrário: são a resistência do corpo emocional e mental à alma. Quando nossa personalidade resiste aos desígnios da alma, adoecemos.

... Há emoções prejudiciais à saúde? Quais são as que mais nos prejudicam?
70 por cento das enfermidades do ser humano vêm do campo da consciência emocional. As doenças muitas vezes procedem de emoções não processadas, não expressadas, reprimidas. O medo, que é a ausência de amor, é a grande enfermidade, o denominador comum de boa parte das enfermidades que temos hoje. Quando o temor se congela, afeta os rins, as glândulas suprarrenais, os ossos, a energia vital, e pode converter-se em pânico.

Então nos fazemos de fortes e descuidamos de nossa saúde?
De heróis os cemitérios estão cheios. Tens que cuidar de ti. Tens teus limites, não vás além. Tens que reconhecer quais são os teus limites e superá-los, pois, se não os reconheceres, vais destruir teu corpo.

Como é que a raiva nos afeta?
A raiva é santa, é sagrada, é uma emoção positiva, porque te leva à auto-afirmação, à busca do teu território, a defender o que é teu, o que é justo. Porém, quando a raiva se torna irritabilidade, agressividade, ressentimento, ódio, ela se volta contra ti e afeta o fígado, a digestão, o sistema imunológico.

Então a alegria, ao contrário, nos ajuda a permanecer saudáveis?
A alegria é a mais bela das emoções, porque é a emoção da inocência, do coração e é a mais curativa de todas, porque não é contrária a nenhuma outra. Um pouquinho de tristeza com alegria escreve poemas. A alegria com medo leva-nos a contextualizar o medo e a não lhe darmos tanta importância.

A alegria acalma os ânimos?
Sim, a alegria suaviza todas as outras emoções, porque nos permite processá-las a partir da inocência. A alegria põe as outras emoções em contato com o coração e dá-lhes um sentido ascendente. Canaliza-as para que cheguem ao mundo da mente.

E a tristeza?
A tristeza é um sentimento que pode te levar à depressão quando te deixas envolver por ela e não a expressas, porém ela também pode te ajudar. A tristeza te leva a contatares contigo mesmo e a restaurares o controle interno. Todas as emoções negativas têm seu próprio aspecto positivo.Tornamo-las negativas quando as reprimimos.

Convém aceitarmos essas emoções que consideramos negativas como parte de nós mesmos?
Como parte para transformá-las, ou seja, quando se aceitam, fluem, e já não se estancam e podem se transmutar. Temos de as canalizar para que cheguem à cabeça a partir do coração. Que difícil! Sim, é muito difícil. Realmente as emoções básicas são o amor e o medo (que é ausência de amor), de modo que tudo que existe é amor, por excesso ou deficiência. Construtivo ou destrutivo. Porque também existe o amor que se aferra, o amor que superprotege, o amor tóxico, destrutivo.

Como prevenir a enfermidade?
Somos criadores, portanto creio que a melhor forma é criarmos saúde. E, se criarmos saúde, não teremos que prevenir nem combater a enfermidade, porque seremos saúde.

E se aparecer a doença?
Teremos, pois, de aceitá-la, porque somos humanos. Krishnamurti também adoeceu de um câncer de pâncreas e ele não era alguém que levasse uma vida desregrada. Muita gente espiritualmente muito valiosa já adoeceu. Devemos explicar isso para aqueles que crêem que adoecer é fracassar.
O fracasso e o êxito são dois mestres e nada mais. E, quando tu és o aprendiz, tens que aceitar e incorporar a lição da enfermidade em tua vida... Cada vez mais as pessoas sofrem de ansiedade. A ansiedade é um sentimento de vazio, que às vezes se torna um oco no estômago, uma sensação de falta de ar. É um vazio existencial que surge quando buscamos fora em vez de buscarmos dentro. Surge quando buscamos nos acontecimentos externos, quando buscamos muleta, apoios externos, quando não temos a solidez da busca interior. Se não aceitarmos a solidão e não nos tornarmos nossa própria companhia, sentiremos esse vazio e tentaremos preenchê-lo com coisas e posses. Porém, como não pode ser preenchido de coisas, cada vez mais o vazio aumenta.

Então, o que podemos fazer para nos libertarmos dessa angústia?
Não podemos fazer passar a angústia comendo chocolate ou com mais calorias, ou buscando um príncipe fora. Só passa a angústia quando entras em teu interior, te aceitas como és e te reconcilias contigo mesmo. A angústia vem de que não somos o que queremos ser, muito menos o que somos, de modo que ficamos no "deveria ser", e não somos nem uma coisa nem outra. O stress é outro dos males de nossa época. O stress vem da competitividade, de que quero ser perfeito, quero ser melhor, quero ter uma aparência que não é minha, quero imitar. E realmente só podes competir quando decides ser um competidor de ti mesmo, ou seja, quando queres ser único, original, autêntico e não uma fotocópia de ninguém. O stress destrutivo prejudica o sistema imunológico. Porém, um bom stress é uma maravilha, porque te permite estar alerta e desperto nas crises e poder aproveitá-las como oportunidades para emergir a um novo nível de consciê ncia.

O que nos recomendaria para nos sentirmos melhor com nós mesmos?
A solidão. Estar consigo mesmo todos os dias é maravilhoso. Passar 20 minutos consigo mesmo é o começo da meditação, é estender uma ponte para a verdadeira saúde, é aceder o altar interior, o ser interior. Minha recomendação é que a gente ponha o relógio para despertar 20 minutos antes, para não tomar o tempo de nossas ocupações. Se dedicares, não o tempo que te sobra, mas esses primeiros minutos da manhã, quando estás rejuvenescido e descansado, para meditar, essa pausa vai te recarregar, porque na pausa habita o potencial da alma.

O que é para você a felicidade?
É a essência da vida. É o próprio sentido da vida. Estamos aqui para sermos felizes, não para outra coisa. Porém, felicidade não é prazer, é integridade. Quando todos os sentidos se consagram ao ser, podemos ser felizes. Somos felizes quando cremos em nós mesmos, quando confiamos em nós, quando nos empenhamos transpessoalmente a um nível que transcende o pequeno eu ou o pequeno ego. Somos felizes quando temos um sentido que vai mais além da vida cotidiana, quando não adiamos a vida, quando não nos alienamos de nós mesmos, quando estamos em paz e a salvo com a vida e com nossa consciência. Viver o Presente.

É importante viver no presente? Como conseguir?
Deixamos ir-se o passado e não hipotecamos a vida às expectativas do futuro quando nos ancoramos no ser e não no ter, ou a algo ou alguém fora. Eu digo que a felicidade tem a ver com a realização, e esta com a capacidade de habitarmos a realidade. E viver em realidade é sairmos do mundo da confusão.

Na sua opinião, estamos tão confusos assim?
Temos três ilusões enormes que nos confundem:

Primeiro: cremos que somos um corpo e não uma alma, quando o corpo é o instrumento da vida e se acaba com a morte.

Segundo: cremos que o sentido da vida é o prazer, porém com mais prazer não há mais felicidade, senão mais dependência... Prazer e felicidade não são o mesmo. Há que se consagrar o prazer à vida e não a vida ao prazer.

Terceiro: ilusão é o poder; desejamos o poder infinito de viver no mundo.

E do que realmente necessitamos para viver? Será de amor, por acaso?
O amor, tão trazido e tão levado, e tão caluniado, é uma força renovadora. O amor é magnífico porque cria coesão. No amor tudo está vivo, como um rio que se renova a si mesmo. No amor a gente sempre pode renovar-se, porque ordena tudo. No amor não há usurpação, não há transferência, não há medo, não há ressentimento, porque quando tu te ordenas, porque vives o amor, cada coisa ocupa o seu lugar, e então se restaura a harmonia. Agora, pela perspectiva humana, nós o assimilamos com a fraqueza, porém o amor não é fraco.
Enfraquece-nos quando entendemos que alguém a quem amamos não nos ama. Há uma grande confusão na nossa cultura. Cremos que sofremos por amor, porém não é por amor, é por paixão, que é uma variação do apego. O que habitualmente chamamos de amor é uma droga. Tal qual se depende da cocaína, da maconha ou da morfina, também se depende da paixão. É uma muleta para apoiar-se, em vez de levar alguém no meu coração para libertá-lo e libertar-me. O verdadeiro amor tem uma essência fundamental que é a liberdade, e sempre conduz à liberdade. Mas às vezes nos sentimos atados a um amor. Se o amor conduz à dependência é Eros. Eros é um fósforo, e quando o acendes ele se consome rapidamente em dois minutos e já te queima o dedo. Há amores que são assim, pura chispa. Embora essa chispa possa servir para acender a lenha do verdadeiro amor. Quando a lenha está acesa, produz fogo. Esse é o amor impessoal, que produz luz e calor .

Pode nos dar algum conselho para alcançarmos o amor verdadeiro?
Somente a verdade. Confia na verdade; não tens que ser como a princesa dos sonhos do outro, não tens que ser nem mais nem menos do que és. Tens um direito sagrado, que é o direito de errar; tens outro, que é o direito de perdoar, porque o erro é teu mestre. Ama-te, sê sincero contigo mesmo e leva-te em consideração. Se tu não te queres, não vais encontrar ninguém que possa te querer. Amor produz amor. Se te amas, vais encontrar amor. Se não, vazio. Porém nunca busques migalhas, isso é indigno de ti. A chave então é amar-se a si mesmo. E ao próximo como a ti mesmo. Se não te amas a ti, não amas a Deus, nem a teu filho, porque estás apenas te apegando, estás condicionando o outro. Aceita-te como és; não podemos transformar o que não aceitamos, e a vida é uma corrente permanente de transformações.

(Entrevista com o Dr. Jorge Carvajal, médico cirurgião da Universidade de Andaluzia, Espanha, pioneiro da Medicina Bioenergética.)